quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O fantasma da DR (Relação)

Fuja do estereótipo da “chata” assim como ele foge da popular proposta de “discutir a relação”.

Qual o limite entre a conversa e a neura?
Nós contamos


Alessandra Siedschlag e Ana Paula Xavier

É batata: basta ele ouvir a frase “a gente precisa conversar” ou suas variantes que a gente consegue ver no olho dele o medo, o pavor e o enfado de ter que passar por outra sessão do que ele mais detesta na vida: a DR, a famosa “discussão de relacionamento”.

Não adianta tentar usar de eufemismos ou vocativos carinhosos, como “Amorzinho, vamos falar um pouco?”. No fundo, ele sente que é a mesma coisa e que lá vem chumbo grosso.

Engolir o que a gente quer falar também não é a saída. Estamos em uma encruzilhada?
Não necessariamente.


Luiz Alberto Py, psiquiatra e psicanalista do Rio de Janeiro, ensina que uma boa conversa começa com a descoberta do que, exatamente, a gente quer. “A gente tem que se perguntar qual a nossa intenção com essa conversa. O que a gente pretende com ela. O que a gente pretende informar, e o que quer perguntar. Só assim conseguiremos nos preparar para a conversa em si”, diz Luiz Alberto.

O segundo passo, segundo o psiquiatra, é estar atenta: a conversa não tem que acontecer na hora em que dá vontade, mas sim no momento oportuno. Deixe toda a raiva / frustração / paixão para lá na hora do diálogo. “A tônica tem que ser a razão, e não a emoção. É a minha razão que vai estar em contato com o parceiro”, ensina ele.

Marcio Eustáquio de Castro Linhares, psicólogo com especialização em sexologia, concorda.

“O dedo em riste é uma coisa que perfura a sua alma. Se você encosta o parceiro na parede, ele não tem como recuar. Se ele não recua, ele se sente ferido. Para se defender, ele ataca. E aí os dois se perdem”, diz ele. Essa história da razão versus a emoção é nossa velha conhecida. Obviamente isso não quer dizer que a gente tem que parar de sentir o que sente.

A questão, aqui, é a forma de abordar a conversa. Luiz Alberto diz: “Se eu quero conversar bem com um japonês, melhor eu falar em japonês, e não em português, sob o risco de eu não ser compreendido totalmente. Então, se eu quiser conversar com um homem, melhor falar sobre o alicerce da razão – a gente sempre tem que buscar a linguagem mais acessível para o interlocutor”. Outra forma de se fazer entender é fazer sempre o exercício da empatia.

Marcio ensina: “Se você acha que lhe falta atenção, coloque a questão de forma empática: ‘Amor, você acha que eu tenho te dado toda a atenção que você quer / precisa / merece?’. Nessa hora, ele vai ter que refletir, antes de responder. E, depois da resposta, você pode estender a conversa: ‘E como você acha que eu estou sentindo isso? Às vezes eu sinto que me falta um pouco da sua atenção’, e por aí vai.

O exercício da empatia integra as pessoas na experiência. É simples. Se você pergunta “Você gosta de mim?”, a resposta vai vir automaticamente: “Sim”. Se você pergunta: “Quais as razões para a gente se dar bem?”, ele vai parar pra refletir. “E aí a base do afeto fica referenciada”, explica o psicólogo.

E por que essa carga tão pejorativa, atualmente, sobre a questão da discussão do relacionamento?

Marcio é da opinião de que nossa vida num mundo urbano, caótico, só piora esse estereótipo pesado: “Para tudo a gente precisa ter um rótulo, uma marca. O que é a tal DR? Nada além do mais puro diálogo que, sob o peso do contexto negativo enfocado pela mídia, nos torna usuários de um produto que a gente acha que não conhece, que a gente não aceita. Voltemos à simplicidade! Uma taça de vinho e um bom papo – essa é a receita para aquela conversa gostosa voltar a existir na vida do casal”, ensina Marcio.

Um brinde ao bom diálogo, então. Conselhos de amigo. Dicas de Luiz Alberto Py e Marcio Linhares para o bom diálogo:

1. Pergunte-se, sempre, qual a sua intenção com a conversa: o que você quer dizer e o que você quer perguntar. Estes são os dois pilares básicos do diálogo.

2. Encontre um momento em que os dois estejam relaxados. Não adianta conversar na hora de ele ir para o trabalho.

3. Tudo bem conversar na cama, antes ou depois do sexo. Se depois do sexo ele costuma dormir, converse antes.

4. Tenha em mente que não é uma discussão, não é um confronto, não se trata de quem tem razão. É uma simples conversa.

5. Tranque a emoção pra fora da conversa. No quarto, só vocês três: você, ele e a razão. Ponto.

6. Faça o exercício da empatia: “O que você sentiria se...”, “Como você se sente”, “O que você acha...”. Tudo vai ficar mais fácil.

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