quarta-feira, 5 de maio de 2010

Moral, Política e Humanidade (video: Civilizações Mesopotâmia)

Vivemos em um mundo que tenta padronizar a todos, transformados em algo próximo às mercadorias que estão disponíveis na modernidade. Urge que estes objetos sejam usados a favor da espécie e não como armas de autodestruição coletiva.

Todo o ser humano é único e original. Não há ninguém que seja, com exceção dos embustes que induzem ao erro, uma cópia exata de outra pessoa. Os gêmeos univitelinos são muito parecidos, entretanto, são pessoas únicas, por vezes muito diferentes entre si, apesar de fisicamente bastante semelhantes. Mesmo que a ciência, nos limites de hoje, permita a clonagem dos genes de uma pessoa e consiga teoricamente fazer uma cópia exata de alguém, não é possível copiar as memórias e o caráter de cada um. Se no futuro, como se vê na ficção, torna-se viável enxertar as memórias retiradas de outros, transferir o caráter de alguém seria uma operação de difícil realização.

O cerne do caráter de cada indivíduo está na moral, isto é, naquilo que ele acredita como certo ou errado e no modo que ele utiliza o que sabe. Muitos conhecem as mesmas coisas, mas tiram conclusões diferentes, por vezes, opostas. Não há como imaginar a clonagem da capacidade humana de decidir, de interpretar e de escolher o seu próprio caminho, dentro dos limites disponíveis para tal. A unicidade e originalidade de cada um são reafirmadas na multiplicidade de caminhos escolhidos nos mesmos contextos ou em situações diferentes.

É verdade que as pessoas podem deixar para outros a prerrogativa de tomar decisões. É comum que existam seres humanos que se achem incapazes de decidir suas próprias vidas. A moral convencional ensina que os soberanos, os pais, os mestres e os deuses são mais aptos. Entretanto, não há como evitar que alguns se rebelem contra qualquer tipo de autoridade que lhes oprima e que busquem trilhar seus próprios caminhos na vida. Os regimes tirânicos e as democracias formais do tempo presente estão longe de dar a todos a mais completa liberdade de decisão. O voto pode ser comprado e a guerra decidida em gabinetes fechados. A opinião comum é uma mercadoria especial comercializada livremente na modernidade. Trata-se do principal artigo vendido nas mídias contemporâneas. Nem sempre os vendedores conseguem sucesso total. Mas, tentam diariamente vender ou revender.

A unicidade e a originalidade das pessoas são fatos de grande impacto social. Estabelecem diferenças e modulam o caráter complementar de cada indivíduo no tecido social. Nem todos conseguem aprender a tocar instrumentos, cantar de modo virtuoso ou se rebelar contra a ordem. Existem, felizmente, os mais corajosos e os mais inteligentes. Há quem tenha mais força e proteja os mais fracos, bem como, estão sempre presentes os mais empáticos, isto é, os capazes de sentir o mesmo que os outros sentem. Apenas, alguns são individualistas, irascíveis e antipáticos. A grande maioria prefere viver junto aos seus, tal como seus antepassados, ou buscar um novo espaço onde sejam mais bem acolhidos. O gregarismo é uma das qualidades da espécie. Este traço permitiu que ela chegasse ao tempo presente, depois de mais um milhão de anos de evolução.

Este mesmo traço gregário levou que na França do século XVIII se entendesse que todos os homens eram iguais em essência. Ninguém seria melhor do que os outros por descender de uma família aristocrática, por ter “sangue azul”. A igualdade entre os homens, a partir da Revolução de 1789, foi compreendida de vários modos. Os liberais a viram como a igualdade frente à lei e o novo tipo de Estado eleito pelo povo. Outros estenderam o conceito à idéia de igualdade social que viria a desabrochar no século seguinte, nos ideais socialistas. Muito rapidamente, os liberais e outros assemelhados tornaram-se tão cínicos quanto os velhos aristocratas, aceitando o princípio de se usar artifícios da lei para protegerem os seus pares. Alguns privilégios aristocráticos foram transferidos sem qualquer pudor para as novas classes burguesas e proprietárias. Nos países onde jamais houve uma revolução, é comum que eles se achem parte de uma nova espécie de nobreza, obviamente, de araque.

A unicidade e a originalidade dos seres humanos existem para o bem e para o mal. Adorno falou em um de seus textos que os nazifascistas mais disciplinados não eram pessoas comuns. Portavam certas características que permitiam a assunção desta ideologia. Não é qualquer pessoa que pode ser um torturador ou alguém especializado em mentir sistematicamente através de um meio de comunicação qualquer. As pessoas são recrutadas para certas funções por terem características que as tornam aptas para desenvolver as tarefas requeridas. A flexibilidade moral permite que algumas pessoas façam coisas repugnantes aos olhos dos demais seres humanos. Existem os ainda piores que decidem e mandam outros executar o que sujaria suas mãos de sangue.

A não ser nos casos em que a loucura se instala de modo devastador, as pessoas sabem o fundamental do que é certo e do que é errado. A humanidade produziu padrões histórico-culturais que ensinam a todos que não se deve matar ninguém, sem que exista um motivo muito forte para tal. O roubo e o furto só são humanísticamente aceitáveis, quando se vinculam a atos de justiça social ou relacionados à manutenção da sobrevivência. A apropriação de coisas dos outros da mesma comunidade, tal como fazem os corruptos, é algo moralmente insustentável. A intriga e a cizânia são repudiadas há muito tempo, infelizmente, continuam sendo fortemente usadas pelas mídias e por algumas pessoas como recurso de manipulação.

A pilhagem dos inimigos sempre foi justificada como ato de guerra, como uma forma de castigar duplamente e duramente os derrotados. Mas, foi comum a ambigüidade no assunto, quanto mais os inimigos eram próximos de seus antagonistas. Foi preciso que fosse inventado o racismo, isto é, o ódio étnico e a idéia de povos superiores e inferiores para justificar a barbárie em suas múltiplas variações antigas e atuais. As ditaduras latino-americanas esconderam as torturas que praticavam e os que executaram – os desaparecidos – por não poderem assumir publicamente os seus crimes, temendo a condenação política e moral de seus atos. Sabiam que não poderiam, no mundo do pós-guerra, sustentar publicamente a barbaridade praticada. Mesmo no nazifascismo, bem menos “cuidadoso”, nem tudo era de amplo conhecimento público. A verdade dos campos de concentração era conhecida por uma grande quantidade de pessoas que viviam nos países invasores e ocupados, entretanto, o mundo só veio saber detalhes quando a guerra acabou, em 1945.

Quebrar o gregarismo humano consiste em romper com a própria natureza humana, na essência cooperativa e capaz de enormes sacrifícios para ajudar o outro. Viu-se, no episódio do Haiti, como antigos ódios étnicos podem ficar em suspenso, mesmo que por um átimo, quando o cerne da sobrevivência humana é afetado. Há alguma hipocrisia nisto tudo? Sim, ela existe. Por outro lado, as tragédias dos outros acabam por comover e criar a compaixão em corações embrutecidos pela propaganda e pelas crenças nas superioridades de alguns povos sobre outros.

A esperança que mora no fundo da caixa de Pandora é que a unicidade e a originalidade de cada ser produzam os que contribuam para melhorar o destino da humanidade. Sabe-se que é comum acontecer o contrário. Há um esforço da tradição e da conservação de impedir que as novas gerações levantem a bandeira da mudança. Vive-se em um mundo que tenta padronizar a todos, transformados, na lógica do espelho, em algo próximo às mercadorias que estão disponíveis na modernidade. Elas não são simples artefatos agregados às pessoas. São muito mais do que isso. Estes objetos representam o trabalho humano concentrado em uma coisa, bem como, a palavra materializada em minerais e compostos de origem orgânica. Urge que sejam usados a favor da espécie e não como armas de autodestruição coletiva. Recuperar uma moral de interesse coletivo significa também problematizar o mundo atual.

Luís Carlos Lopes é professor e autor do livro "Tv, poder e substância: a espiral da intriga", dentre outros.

Mesopotâmia, ou "o país entre dois rios", é a mais antiga civilização ter florescido na confluência de dois rios: o Tigre e o Eufrates. Os mesopotâmios incluídos vários povos, os sumérios, os babilônios, os acádios, que coexistiram e se sucediam, a mistura e inter-relação em um Oriente Médio com uma ampla gama de aspectos raciais. Esses povos diferentes, que viveu ao longo das margens dos dois rios, que deixaram para trás um património arqueológico de inestimável valor. Como viveram e florescer em um ambiente tão hostil? Onde é que sua riqueza vem? E como é que esta civilização perfeitamente estruturada finalmente enfraquece e desaparece para sempre?

Esta série popular dá novas pistas sobre algumas das civilizações mais influentes para moldar o mundo como nós o conhecemos. Para entender onde estamos agora, pode ajudar a compreender onde nós fomos.






O Império acadiano







Sumerian Origins of Humans


terça-feira, 4 de maio de 2010

Humberto Maturana

Nasceu em 14Set1928 em Santiago de Chile é um biólogo (Neurobiologia) chileno, crítico do Realismo Matemático e criador da teoria da autopoiese e da Biologia do Conhecer, junto com Francisco Varela. e faz parte dos propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical.

Maturana concluiu seus estudos no Liceo Manuel de Salas em 1954 para logo ingressar na carreira médica da Universidade do Chile. Em 1954 seguiu para a University College of London para estudar anatomia e neurofisiologia, graças a bolsa da Fundação Rockefeller. Em 1959 obteve o Doutorado em Biologia pela Universidad Harvard, nos Estados Unidos.
Posteriormente, registrou pela primeira vez a atividade de uma célula direcional de um órgão sensorial, junto ao cientista Jerome Lettvin do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Pela condução desta investigação ambos foram candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, ainda que não obtivessem a premiação. Em 1960 voltou ao Chile para desempenhar a função de professor adjunto na disciplina de Biologia da Escola de Medicina da Universidade do Chile. Fundou o Instituto de Ciências e a Faculdade de Ciências da Universidade do Chile em 1965.
Em 1970 criou e aprimorou o conceito de Autopoiese, que explica como se dá o fechamento dos sistemas vivos em redes circulares de produções moleculares, em que as moléculas produzidas com suas interações constituem a mesma rede que as produziu e especificam seus limites. Ao mesmo tempo, os seres vivos se mantém abertos ao fluxo de energia e matéria, enquanto sistemas moleculares. Assim, os seres vivos são "máquinas", que se distinguem de outras por sua capacidade de auto-produzir-se. Desde então, Maturana tem desenvolvido a Biologia do conhecimento.
Em 1990 foi designado Filho Ilustre da comunidade de Ñuñoa (Santiago do Chile). Além disso, foi declarado doctor honoris causa pela Universidad Libre de Bruselas. Em 1992, junto ao biólogo Jorge Mpodozis, gera a idéia da evolução das espécies por meio da deriva natural, baseada na concepção neutralista de que a maneira em que os membros de uma linhagem realizam sua autopoiese se conserva transgeracionalmente, em um modo de vida ou fenótipo ontogênico particular, que depende de sua história de interações, e cuja inovação conduziria a diversificação das linhagens. Em 27 de setembro de 1994 recebeu o Prêmio Nacional de Ciência no Chile, graças a suas investigações no campo da percepção visual dos vertebrados e a seus modelos conceituais a respeito da teoria do conhecimento.
É co-fundador e docente do Instituto de Formação Matríztica, em Santiago de Chile, onde trabalha com Ximena Davila (co-fundadora e docente) no desenvolvimento da dinâmica da Matriz Biológico-cultural da Existência Humana. A proposta do instituto é explicar as experiências desde as experiências, como um fazer próprio do modo de viver humano (cultura), em um fluir no entrelaçamento do linguajear e do emocionar (conversar), que é desde onde surge todo o humano.
O resgatar as emoções dentro duma deriva cultural que tem escondido as emoções, por ir contra da razão, é uma das aberturas de olhar propostas por Maturana, pois dá conta que a deriva natural do ser humano como um ser vivo particular, tem um fundamento emocional que determina esta deriva. O amor é a emoção que sustenta, funda o humano em tanto é o fundamento da recorrência de encontros na aceitação do outro, como legitimo outro que da origem à convivência social e por tanto à possibilidade de constituição da linguagem, elemento constitucional do viver humano. O AMOR é a emoção que sustena e permite o surgimento do humano, uma vez que é o fundamento da recorrência dos encontros na aceitação do outro, da outra como legítimo outro(a); dando origem, portanto, a convivência social e a possibilidade da constituição da linguagem, considerada um elemento consitucional do viver humano e somente do viver humano.

"Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais. Nossa crença nessa afirmação, nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade, a ponto de querermos atribuir pensamento racional a animais não-humanos, sempre que observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, fizemos com que a noção de realidade objetiva, se tornasse referência a algo que supomos ser universal e independente do que fazemos, e que usamos como argumento visando a convencer alguém, quando não queremos usar a força bruta." (extraído do livro "A Ontologia da Realidade" de Humberto Maturana - Ed. UFMG, 1997)