terça-feira, 3 de agosto de 2010

A cauda longa - Anderson Chris

EPÍLOGO

A CAUDA DE AMANHÃ

Por cerca de US$30 mil, pode-se comprar uma impressora Solidscape T66 3D. É uma bela peça de engenharia para ser instalada sobre uma mesa, embora ainda esteja um pouco cara. Mas o preço está caindo com rapidez e sua tecnologia é tão revolucionária que lança a imaginação a alturas inimagináveis. Lembra-se da história da LEGO Factory, na qual se podem desenvolver modelos, transmiti-los para a empresa pela Internet e receber os kits em uma ou duas semanas? Bem, agora é possível eliminar o tempo de espera pelas peças. Uma impressora 3D é uma fábrica doméstica, capaz de fabricar quase tudo em lotes de um. Um dia, essas máquinas talvez sejam tão comuns
quanto as impressoras jato de tinta e não muito mais caras. Mas pense no que elas podem fazer.

As impressoras 3D de hoje são de vários tipos, mas uma das mais comuns usa raios laser para transformar polímero líquido ou em pó em plástico duro, na forma desejada. Basta alimentá-la com um arquivo-objeto em 3D, como o produto de um programa CAD ou até o arquivo polígono de um personagem de um videogame, e o laser começará a trabalhar para produzi-lo. Camada a camada, acaba-se obtendo uma reprodução física perfeita do objeto. A impressora Solidscape 3D é capaz de converter bits em átomos em sua própria casa.

Trata-se da última palavra em tecnologia de fabricação de objetos da Cauda Longa.

A medida que a tecnologia de impressão em 3D avançar além do plástico para uma ampla gama de materiais, desde metais até tecidos sintéticos, talvez nos tornemos capazes de fabricar por conta própria peças sobressalentes, brinquedos e, quem sabe, máquinas inteiras cujo projeto baixamos de algum varejista virtual. Já temos essa capacidade para bens digitais: hoje, quando se compra um software da Amazon, pode-se escolher entre recebê-lo numa caixa em dez dias ou simplesmente baixá-lo e rodá-lo imediatamente. Outros serviços oferecem a mesma escolha em relação à música: um CD na semana que vem ou faixas digitais agora. Mas um dia essa possibilidade talvez se estenda aos bens físicos.

Hoje, imprimimos nossas próprias fotografias em casa; amanhã, talvez se imprima também o porta-retratos.

Já se pode ter uma idéia disso hoje. Will Wright, lendário projetista de videogames, está dando os toques finais em seu próximo jogo, Spore. Nele, os usuários serão capazes de desenvolver suas próprias criaturas, imbuindo-as de traços e características de sua própria concepção. Se gostar da criatura, será possível enviar o projeto para os servidores da Spore. E então, por cerca de US$20, elas serão impressas em 3D, como figuras físicas — cores, textura e tudo. Cada uma é única e será entregue em sua casa em questão de uma ou duas semanas.

Reflita sobre isso como a Cauda Longa da comercialização, um vislumbre estarrecedor do que está por vir.

A Cauda Longa das Coisas de amanhã, à semelhança de tudo o mais, será agregadora, armazenará com eficiência seu conteúdo como bits, para que depois sejam entregues em sua casa por meio de fibras ópticas. Só então serão materializadas, percorrendo o círculo completo novamente para átomos, no ponto de consumo. Parece ficção científica, mas essa também era a reação, quando, uma década atrás, se pensava em carregar no bolso um vastíssimo repertório de músicas, a serem reproduzidas em qualquer lugar e a qualquer hora.

Nos mundos do entretenimento e da informação, já superamos as restrições de capacidade em termos de espaço em prateleiras e canais, além de suas exigências de tamanho único.

Em breve, também deixaremos para trás as limitações de capacidade também em produção de massa. A explosão de variedade que vemos em nossa cultura, graças à eficiência da tecnologia digital, se estenderá para todos os outros aspectos de nossa vida. No futuro, a questão não será se a multiplicidade de escolhas é melhor, mas o que realmente queremos. Nos corredores infinitos, tudo é possível.

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