terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Forrest Gump - O Contador de Histórias

Esta postagem além de homenagear a interpretação de Tom Hanks, é também uma referência da maneira que interpreto minha vivência em Gaia. Sempre que começo a contar minhas experiências até então com 54 anos de vida, olho meus interlocutores, e sinto a sensação de ser um FORREST GUMP...

Forrest Gump é uma das obras mais cativantes que o Cinema já construiu. O filme possui elementos inéditos em relação ao tempo que foi lançado e consagra Tom Hanks como um dos melhores atores de todos os tempos. A história do filme é apaixonante e abusa da sua simplicidade permanente. A trajetória de Forrest Gump ilustra muito bem a história contemporânea dos EUA, através de uma forma riquíssima, irreverente e carinhosa.

O filme começa com uma pena caindo, aleatoriamente, nos pés de Forrest. Depois desse momento de suma importância para se entender a alma do filme, que explicarei mais adiante, Gump começa a contar sua história, sentado num banco de uma parada de ônibus. De imediato, percebemos que Gump é a ingenuidade e inocência em pessoa, e isso favorece para que a sua história seja mais linda e emocionante ainda.

A medida que nos aprofundamos na narrativa de Gump, vamos nos identificando pelo seu personagem e criando uma relação tão consistente com o filme, que acabamos envolvidos por todos os momentos da obra. Acompanhamos a infância de Forrest, e logo no ínicio, conhecemos Jenny, sua única e verdadeira paixão. O filme lança mão dessa simbiose entre os dois personagens e concretiza todos os aspectos necessários, para que mais tarde, o filme se desenvolvesse de forma mais fluente, usando a dialética Gump-Jenny como pilar para que a história proceda.

A vida juvenil de Gump é a típica vida de qualquer americano daquela época, e nesse momento, percebemos a primeira de muitas qualidades do personagem: a sua capacidade de correr. Forrest usará essa artimanha durante sua vida toda {inclusive durante uma sequencia toda do filme}. Foi essa capacidade que permitiu Gump ser jogador na faculdade e permitirá, mais tarde, que ele se torne ícone americano {explicarei mais tarde esse momento de sua vida.}

Entrando na vida adulta de Forrest, percebemos que ele viveu uma fase turbulenta, que envolveu Guerra do Vietnã, Manifestação Pública, Campeonatos pelo Exército. No período em que passa pela Guerra, Gump continua sendo a mesma criatura dócil e inocente de sempre, e é graças á essas características, que torna Forrest em um grande soldado americano. Desse momento, as primeiras prerrogativas de uma vida adulta invade a existência de Gump, começando a torna-lo mais maduro. Ele ainda nutre veementemente sua paixão pela Jenny, que visivelmente, não sente nada por ele, além de um carinho afetuoso enorme.

Inicia-se aí a fase mais dark de sua vida, quando Gump descobre que Jenny não vive uma vida muito boa, já que ela se rendeu ás drogas e as humilhações machistas típicas daquela época. É nessa fase também que Forrest começa a ter que lidar com a morte: principalmente de seu grande amigo morto em guerra, o Bubba.{criatura mais irritante e bizarra de toda a história do cinema, quem viu o filme, me entende, rs} No entanto, é nessa fase, que Forrest precisará entender que a vida é mais complicada que parece, quando ele percebe que suas atitudes, por mais claras e certas que fossem, não trazia a felicidade esperada. Essa situação é bem dialogada através do personagem de Gary Sinise, o Tenente Dan Taylor. O Tenente é salvo da morte por Gump, mas acaba perdendo ambas as pernas, provocando em Dan um sentimento de revolta por ter sobrevivido. Nesse contexto, Gump começa a ter que lidar com as complexidades - inesperadas - da vida.

Usando como plano de fundo do filme, está toda a história conturbada de um EUA lutando pela posição maior no cenário mundial, tendo que lidar com movimentos hippies e inclusive movimentos étnicos, como os Pantera Negras. Nesse palco, Gump precisa construir sua história, como a figura vencedora do conservadorismo, aquele símbolo americano, que todos deviam seguir. Encontra-se aí, talvez, uma das maiores mensagens ocultas do filme que é a manipulação da sociedade em cima da figura do homem. Gump, mesmo vivendo uma vida agitada, se mantém ingênuo e apaixonado pelos outros. A alma de Forrest não se altera, e reside aí a beleza do filme, ou pelo menos, a razão por tornar o filme em uma obra-prima.

Depois desse período conturbado, o filme lança mão de um cenário mais calmo, onde Forrest se encaminha para uma idade mais madura, vivendo uma aventura nova: dono de um barco de camarões {em homenagem a seu amigo morto na Guerra do Vietnã} ao lado do ainda revoltado Tenente Dan. Vale frisar que Jenny não se mantém, momento algum, após a infância, presente na vida de Forrest, salvo apenas alguns momentos em que se esbarram durante o filme. Nesse momento de sua vida, Forrest começa a pensar, compulsivamente, pelo seu amor perdido. E nós, o público, torcemos para que a relação Jenny-Gump aconteça, mesmo sabendo, que não existe reciprocidade entre eles.

Ao fim do filme, ocorre uma reaproximação de Jenny e Forrest, mas, posteriormente, percebemos que Jenny apenas se rendeu ao amor de Forrest, e decidiu fazê-lo feliz, mesmo que por um breve momento. Antes que notemos, a personagem saí tão repentinamente como entrou, da vida de Gump. Porém, depois desse momento, a vida de Gump se altera definitivamente. Desesperado por perdê-la, Forrest simplesmente decide correr. Ele corre durante quase três anos e meio, tornando-se novamente ícone americano. De imediato, percebemos que aquilo é a fuga de Gump em relação á sua fracassada vida amorosa.

O filme é simplesmente fantástico. A magia da obra não se encontra somente nesse contexto exposto até aqui, mas vai além disso: a direção do filme introduziu aspectos irreverentes no enredo, brincando com o destino de Gump, o tornando responsável pelos passos de Elvis Presley, e criador da música Imagine, de Lennon. O filme, inclusive, coloca Tom Hanks, ao lado, de John Lennon! Lógico que isso não ocorreu, e está aí um dos motivo pelo qual o filme ganhou o oscar de Melhores Efeitos Especiais.

Outro aspecto essencial para o filme, é o brilhantismo de todas as interpretações. Cabe aqui, ressaltar que Hanks nunca conseguirá interpretar tão bem um personagem, como interpretou em Forrest Gump - O contador de Histórias. Admiro, intensamente, a capacidade de Tom Hanks em desenvolver tão excepcionalmente qualquer personagem que seja incubido de intepretar. Os outros atores do filme, como Sinise e Robin Wright {Jenny}, desempenharam muito bem também seus personagens, mas ficaram a sombra do brilhantismo de Hanks e seu personagem, Gump.

Alan Silvestre criou uma trilha sonora tão bem construída, que não posso escrever essa resenha sem citá-lo. As músicas do filme se encaixam perfeitamente com os momentos em que são colocadas, e ouvir Hendrix nunca é demais! Os outros aspectos técnicos do filme são de mesmo esplendor e tornam o filme, em uma obra inesquecível. O filme possui cenas muito bem feitas e é incrível imaginar como eles souberam aproveitar cada minuto do filme.

Bem no final do filme, Jenny finalmente se casa com Gump. No entanto, é obvio que ela se submete a isso apenas porque, estando em estado terminal de AIDS {não fica explícito que é essa a doença, mas se percebe facilmente que é, no mínimo, uma alusão ao período de pandemia da AIDS no mundo}, ela precisa que alguém cuide - pasmem - do seu filho, que também é filho de Forrest Gump! É justamente esse aspecto que dá sentido a vida de Gump e será esse filho que fará com que a vida de Forrest, após a morte breve de Jenny, ganhe algum sentido.

Entra então em cena, uma das melhores cenas do Cinema: o monólogo que Forrest faz consigo mesmo, na frente do túmulo de Jenny. Ele explica o quanto a amou e o quanto ela foi importante na sua vida, e tenta explicar porque essas coisas acontecem. É exatamente nesse momento, que entendemos o motivo da pena no ínicio do filme. Gump fala que existe sim um destino, ao qual devemos estar desprevinidos, mas que cada destino faz parte de um plano maior.

A pena é uma métafora linda do que ele disse, mostrando que apesar dela está a mercê do vento, ela sempre cairá no lugar certo, que no filme, foi aos pés de Gump. A pena voa novamente, quando a história de Gump encerra-se de forma simbólica {quando ele leva seu filhinho, também chamado de Forrest Gump, para a parada do ônibus escolar, em alusão ao ínicio do filme, que também possui essa cena}. A pena voa, aleatoriamente entre as árvores, e termina caindo em nossa direção, terminando o filme com a mensagem de que a sua história também é fantástica, assim como foi a história de Forrest Gump.

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