Para Carl Gustav Jung a individuação é o grande sentido da vida. O filme Matrix nos ensina, ou, apenas esclarece o que já aconteceu para alguns de nós. A mudança de padrões e valores e a importância do Amor Compartilhado. Trilhar o caminho da individuação significa deixar-se conduzir por uma sabedoria maior que Jung denominou Self (o si-mesmo), o centro ordenador e ao mesmo tempo a totalidade de cada um de nós.
Aquele que se individua se diferencia da multidão inconsciente e adquire autonomia, tornando-se uma totalidade psicológica, autoconsciente, sem divisões internas: um “in-divíduo”. Para Jung, um futuro melhor para a humanidade dependerá de quantos conseguirem se individuar, integrando o Consciente com o Subconsciente e como Supraconsciente.
Vivemos na Matrix, um mundo onde todos estão vivendo uma programação coletiva, imersos na massa inconsciente, feito uma boiada onde a individualidade é suplantada pelo coletivo, ou seja, pelos programas mentais desenvolvidos pelos diferentes Sistemas Organizados de modo Arbitrário, políticos, sociais e religiosos. Um dia uma pessoa começa a desconfiar de que talvez exista algo mais e passa a procurar respostas às suas dúvidas. Passa a viver uma realidade pessoal que difere da realidade coletiva e, por essa razão passa a ser considerado diferente, rebelde, ou, herege.
A individualidade nascente sente-se dividida pois ao mesmo tempo que a nova percepção e o novo nível de consciência o fascina e atrai, o velho mundo acena com suas velhas e "seguras certezas" coletivas, através dos Sistemas Organizados de modo arbitrário. Está estabelecido o conflito. Mais uma vez A Consciência pode sentir medo de prosseguir, tais as dificuldades que os demais estabelecem. Os personagens que representam o novo estado de consciência têm de ser mais enérgicos e o obrigam a “desrastrear-se”, a isolar-se. Depois, no auge de seu sofrimento psíquico, ao lhe ser exposta a verdadeira realidade em que vivia, reluta uma última vez em aceitar a mudança. Mas já é tarde. Estava definitivamente transposta uma fronteira decisiva de sua transformação pessoal.
Não é fácil o processo de individuação. Conhecer e realizar toda a potencialidade de si mesmo requer coragem, perseverança e honestidade. São muitos os obstáculos que surgirão durante a jornada. A maioria dos que são instigados a mergulhar em si mesmos termina desistindo ante os primeiros desafios e retorna depressa às velhas seguranças das certezas conquistadas: o velho mundo, mesmo limitado e com todos os seus problemas, é mais facil de viver que um mundo novo e desconhecido. Mudar requer sempre disposição para reconhecer os próprios defeitos e isso dói. Dói despregar-se daquilo em que sempre acreditamos, principalmente em relação a nós mesmos. Dói perceber que na verdade não somos perfeitos, que temos falhas e que, para prosseguir, temos de nos livrar delas. Autoconhecimento traz muitas dores mas é a única estrada que pode nos libertar e levar à realização pessoal mais verdadeira, onde concretizamos toda nossa potencialidade adormecida.
A nova Consciência está insatisfeita com sua vida e vê surgir a grande oportunidade que sonhava. Vê que sua intuição lhe falava a verdade e que a realidade é bem maior. Conhece novas pessoas e idéias que a princípio parecem absurdas. O processo é difícil e ele várias vezes pensa em desistir mas aos poucos habitua-se à sua nova auto-imagem. Com o tempo vê aflorarem novas forças e habilidades e se sente cada vez mais confiante. No entanto, crer que é o Predestinado de que fala a profecia já é demais, não cabe. Só mudamos se estamos insatisfeitos. Se não, por que mudar? Quando nossos valores ficam obsoletos e as verdades em que críamos já não servem, a vida nos impõe a transformação.
Intuímos que há algo errado em nossa vida mas não sabemos precisar o que seja. Aos poucos certos indícios se apresentam e já não temos como esconder de nós mesmos: o caminho está à frente e ele nos pede uma confirmação. A vida nos fará passar por inúmeros testes, nos apresentará pílulas azuis e vermelhas. Precisamos estar atentos para seguir a intuição. Ela sabe o caminho. É nesses momentos decisivos que surgem os autoboicotes, tão comuns. Fingimos não ver. Fugimos de um exame de consciência e refugiamo-nos em velhas e cômodas "verdades". Várias vezes viveremos o dilema: o novo se apresentará e, os velhos hábitos nos chamarão de volta, esticando-nos incomodamente entre dois pólos que nos querem a todo custo. É sempre um instante delicado pois se continuamos nos recusando a enfrentar a verdade, a vida chegará a um impasse insuportável e seu curso natural será barrado. Vêm daí as doenças e fracassos como mecanismos da psique auto-reguladora para nos obrigar a uma interiorização, para repensar e retomar o rumo. Velhos aspectos da personalidade, que já não nos servem mais, terão de dar espaço a novas forças. As transformações são acentuadas, sim, mas somente enquanto as olhamos deste lado de cá, do lado do velho mundo. Depois que largamos o medo de ser o que na verdade sempre fomos, a transformação revela-se um nascimento onde vemos a vida através de verdades mais úteis e abrangentes. Continuamos os mesmos mas diferentes: sabemos exatamente quem somos. É esse detalhe que nos distinguirá da massa inconsciente de si mesma.
Olharemos para trás e perceberemos que todas as quedas e traições que sofremos foram necessárias, nada foi em vão. Veremos que todos tiveram seu valor em nossa jornada, os que creram em nós e até os que nos traíram, cada um em seu papel, e que tudo sempre esteve interligado. É como se uma força poderosa e invisível estivesse o tempo todo na condução dos fatos, confiando em nós. Chamam essa força pelo nome de algum deus, Tao, mente cósmica, destino, Self (Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo). Chame como quiser. Essa força existe e aguarda apenas que cada um de nós, predestinados que somos, decida despertar de vez e, sair da mesmice coletiva.
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