quarta-feira, 10 de março de 2010

PROFESSORATION - A Educação Ególatra e de Mercado.

Recebi de uma amiga e educadora e sonhadora e batalhadora e que como eu, pensa a educação como coisa séria, trabalhosa. Pensa o aprender como algo de dedicação, empenho, esforço, concentração. Como algo acima de tudo de querer APRENDER.

Infelizmente nossas crianças não possuem maturidade pra entenderem o que está acontecendo. Acredito que nem seus pais. Mas, o pior é ver nossos colegas participando dessa nova função de "entreter nossos alunos".

É uma pena.

Dos fenômenos educacionais contemporâneos, decerto o que me causa mais necessidades “draminícas” é o do professor/a que insiste em se fazer animador de auditório. Neste espetáculo dantesco, não existem alunos, mas espectadores, onde o conteúdo se esmaece em meio às performances um tanto quanto patéticas, dos já citados animadores.

Ratificamos a constatação/provocação de Lima Barreto: “no Brasil não existe povo, existe público”.

Outro dia assisti uma palestra, na qual o suposto palestrante se contorcia e contava “causos”, numa tentativa louca e frustrada de nos... entreter! Confesso ter me sentido infantilizada ou quem sabe posta à força no “terceirão” d´alguns destes “colégios” de formação(?) em escala industrial, rumo ao outdoor totêmico da educação vestibulesca.

Entretenimento! ... Eis a nossa nova obrigação, incentivada e assinada por alguns seres-professores/ as que se rendem aos apelos do famigerado mercado, em nome de alguns trocados.

Enquanto “assisto” ao desfile destas pérolas, me recordo de um sábado ensolarado enfurnada numa sala de São Lázaro, onde esperávamos a chegada do professor convidado para nos falar sobre a formação política brasileira. Um senhor sóbrio, quase dois metros de altura, passos lentos, que a priori nos fez olhar com olhinhos sonhadores para aquele sábado chamativo.

Porém,

Sentou na cadeira, falar cadenciado.. . Progressivamente as suas palavras foram nos envolvendo, numa crescente de interesse e encantamento, que prescindia de caras e bocas.

Indelével!...

Não éramos mais os mesmos do início da aula. Aprendemos.

O que houve conosco, em São Lázaro, não foi o êxtase superficial de uma didática-rebolation, dos modismos venais de época, mas a e-moção sem alardes, do conhecimento emanado daquele senhor que provavelmente não poderia dar aula em muitas salas de Ensino Médio desta cidade.

Não teria público!

Tudo isso não exclui rir, não exclui brincar, não exclui o lúdico, nem mesmo define um protótipo ideal de professor/as.

Precisamos sim, fazer a reflexão sobre a nossa prática e o nosso preço! Começar a desconstrução da midiática figura daquilo que poderíamos chamar de PROFESSORATION! ... Um enlatado com realçador de sabor, arremedo de educador, que me faz ter pesadelos com Paulo Freire numa lousa eletrônica, mostrando o macetinho do vestibular, entre uma e outra piadinha de mau gosto

Daiane Oliveira
http://diariosdeuma educadora.blogspot.com/
"Eu tenho uma espécie de dever de sonhar."

Nenhum comentário: